quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

OS SAPATINHOS DA PERITA

Era quarta feira de carnaval, plantão tranqüilo, estávamos refestelados no alojamento, vendo na TV as reprises dos desfiles das escola de samba e comendo pipoca.
Logo à tardinha, fomos chamados para um local de atropelamento fatal em linha férrea.
Esse tipo de acidente, ou é suicídio, ou é um bebum, ou criança, ou raramente, um distraído ou maluco que quis atravessar na frente do trem pensando que fosse possível dar tempo.
Nesse caso foi suicídio, deixou bilhete para a família, tinha depressão profunda.
O cômico do dia foi que, a perita que nos acompanhava, era uma garota que andava sempre elegante, não recordo de vê-la, alguma vez, usando calças Jeans, ou camisetas. Sempre de vestido, maquiada, algum brinco, cabelos arrumados e usando sapatos com saltinhos. Se, íamos a uma favela ou em lugares sem asfalto, grama, ou barro, ela trocava os sapatos por botinhas.
Naquele dia ela não levou as botinhas. Ao andarmos pela linha férrea, pesquisando vestígios, fotografando pedaços do cadáver, vistoriando a locomotiva etc., a colega enroscou os saltinhos nos dormentes e nas pedras, quebrando ambos os sapatos. Ela quase chorou. Nós rimos. E agora? Deixaríamos a colega descalça, andar sobre pedras? Para não causar mal maior e também por cavalheirismo nosso, carregamos no colo a perita até a viatura. (e se ela machucasse os pezinhos?)
Até o final do plantão, meio constrangida, ela usou suas botinhas..... e nós continuamos a comer pipoca.

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