sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A BONECA


Chovia “pra mai da conta sô !”, como expressava meu colega mineiro, naquele mês de janeiro. Em toda a nossa região a chuva não dava trégua há mais de uma semana. Em Todos os plantões que trabalhamos, amassamos lama em vielas de favelas ou atolamos viatura em sítios e chácaras da região, periciando locais de delitos menores, como: furtos de equipamentos agrícolas, abate ilegal de gado, morte suspeita de animais, furto em residências de chácaras de veraneio, crimes ambientais de pequena monta etc. Tenho que confessar que estávamos com muito azar. Todo plantão voltávamos molhados.
Mas, o que mais se destacou naquele mês, foi um chamado que recebemos, à tardinha, de uma delegacia de uma cidade distante a quase 30 km de nossa sede, para local de encontro de feto humano. Pelo menos viajamos sem chuva, mas, ao chegar ao local indicado pelo Delegado, já sentimos o drama de enfiar o pé na lama para caminhar em uma rua estreita, em declive, que findava ás margens de um córrego fedorento, de um conjunto habitacional, ainda em construção. Já estava escuro, e uma pequena aglomeração de pessoas curiosas nos esperava. Lá, encontramos também, um pequeno saco plástico semi-enterrado no lodo, as margens do córrego, com uma cabeça semelhante a de um bebê, pouco descoberta. Ao fazer as fotos iniciais, estranhei aquilo e quando o Perito aproximou-se, já calçado de luvas, foi remover o saco para analisar o objeto.. falou uns palavrões baixinho e..deu uma boa gargalhada.......era uma boneca de pano, com cabeça de porcelana !!!!
O Delegado, constrangido, pagou a janta.

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